5 de janeiro de 2016

Diário do escritor: agente literário, autopublicação e vaidade

Sou defensora da publicação de novos autores. Tenho acesa essa esperança de que podemos ser melhores que ontem e que uma das formas de se atingir esse objetivo é com bons livros e mais leitores. Alcançar leitores num país que não lê é aventura de história sem fim. O trabalho começa assim que se termina de escrever o livro.

Publicar é sofrível, principalmente quando você não faz ideia do que está fazendo. Ninguém ajuda autor iniciante. Ninguém. Sabe aquela fantasia de filme, de ter alguém para representar seu livro junto às editoras? Alguém que acha uma brecha no sistema para que você publique? Esqueça. Esse alguém não existe. Não na prática, especialmente para os meninos perdidos que brincam nas ruas esburacadas da internet: nós, os novatos.

Imagino da seguinte forma: há dois círculos. Dentro do primeiro círculo estão os autores e suas rainhas são a criatividade, a imaginação e toda a capacidade inventiva. O segundo círculo pertence à publicação e tem um único rei: o dinheiro.

Falar sobre publicação é falar sobre dinheiro.

Se você tiver um conhecido que escreva no exterior, vai descobrir que existe uma figura chamada agente literário. De acordo com o tio Google e a dona Wikipedia, é "um profissional ou empresa que representa escritores e seus textos junto a editores e produtores teatrais e de cinema, assistindo-os na venda e negociação dos mesmos". Fora do Brasil, agente literário funciona: o facilitador que leva o trabalho para as editoras corretas, sabe dos honorários deles e dos autores, negocia, assiste. Nos Estados Unidos, por exemplo, quase não há publicação sem agente. Aqui no Brasil, agentes literários são os meninos que moram na casa mais chique do bairro. E eles não saem para brincar na rua. Nem convidam meninos perdidos para a festa.

São poucos os profissionais disponíveis no país e talvez por isso eles dizem não ter tempo para perder com iniciantes. Pela quantidade de autor que vejo por aí, imagino que não mesmo. Os agentes querem tudo pronto: o livro bem escrito e os leitores, ou seja, só trabalham com autor conhecido. Conseguir uma entrevista com um agente literário é caro. Eles vão cobrar para ler o seu original (ainda que rejeitem representá-lo), vão cobrar se você insistir em tê-los como representante e vão cobrar se alguma editora resolver publicar o seu livro.

Você paga por tudo. E se alguém disser que vai fazer alguma coisa, qualquer coisa, de graça, corra! Não existe almoço ou festa grátis. Você paga por tudo: seja com dinheiro, seja com o desperdício de seu precioso tempo.

Têm se estimulado cada vez mais a vanity press, impressão por vaidade, cujo nome hoje é mais chique: autopublicação. Eu sei, também senti uma fisgada no coração quando me dei conta que todo trabalho dedicado a um escrito não passa de vaidade para o mundo editorial. Pior! O grau de vaidade é diretamente proporcional ao quanto ficamos irritados com a palavra vanity em todas as suas traduções.

O mercado editorial viu no universo de autores uma grande oportunidade de negócios. Não são os nossos livros o objeto de desejo deles. Não há apreço por livro ou por seu conteúdo, por mais ácido que isso soe. O dinheiro dos autores é o que eles querem. Se poucos leem e um monte de gente escreve, logo, o mercado consumidor é o autor, não o leitor! O mundo da publicação precisa abocanhar esse mercado.

Apesar disso, a autopublicação está muito mais barata do que já foi no passado. Há inúmeros sites que facilitam a vida do autor: dão assistência para tudo, do ISBN à capa. E há preços que cabem no bolso de todo mundo.

Mas o mercado da publicação não barateou esses custos porque é bonzinho. Reduzir o custo da impressão é uma necessidade das editoras. A internet criou um problema quando digitalizou a informação que saiu do papel e se tornou mais acessível. Mas a solução também é digital: o ebook, tão mais barato para todo mundo: autor, leitor e editora. Some a isso o fato de que todo autor lê (ou deveria). Se a editora convencer o autor que pode confiar a sua publicação ao ebook, estará convencendo mais um leitor a ler e comprar ebooks. Corrijo isso: um autor pode fazer mais de um leitor aceitar o ebook, por menor que seja seu nicho. Aparentemente todo mundo ganha.

As gráficas dizem que há mercado para elas, que há quem prefira folhear o livro. Eu prefiro o livro, mas ao mesmo tempo, nem tudo que compro e leio é impresso. Quero ler os novos autores em ebook porque converso com eles em fóruns e quero ter os livros deles logo que saem. Autopublicação acaba sendo uma saída adequada para (quase) todo mundo, desde que se adapte ao seu bolso, tempo e grau de paciência.

Agora, se o livro vai ser um sucesso... Ainda que se gaste horrores na publicação, ninguém pode garantir isso. Acontecer depende de talento, sorte e de muito trabalho. Não deixa de ser um exercício diário de fé.

Alguém está errado nessa história? Não. Editora quer fazer dinheiro. Agente literário quer fazer dinheiro. Gráficas também querem dinheiro. E autor quer ser lido, quer fazer sucesso. Quem é que alimenta a vaidade? E o que é que vem junto com o sucesso mesmo? Apontar vilões e mocinhos é infantil. A vida é como é. Se quer ser autor, seja prático, trabalhe e não odeie os meninos da casa bonita. Quem sabe um dia a garotada da rua também faça festa.
 Thais Simone.

Nenhum comentário:

Postar um comentário