9 de abril de 2017

Diário do escritor: noite de apresentação

A questão do apresentar-me como autora foi uma pedra no meu sapato. Rejeitei de cara. Coisa de gente que aprendeu a ser reservada, menos por recato, mais por resguardo. Quem sabe o quanto é difícil encontrar seu eu, principalmente quando ele é mutante, sabe que esse eu merece preservação e não exposição.

Não é timidez. Nem medo de palco. Enfrento as luzes da ribalta com relativa tranquilidade. No entanto, prefiro as sombras à luz extrema. Na sombra, a escuridão e a luz se revelam com igual intensidade. Ali talvez more alguma verdade.

Ainda assim me convenceram a fazer um lançamento singelo. Aceitei sem aceitar. Usava mil desculpas e colocava inúmeros obstáculos. Primeiro dizia que queria salvaguardar o livro. Tolinha! O livro tem que deixar a prateleira. Depois, quando (finalmente) me dei conta que a palavra escrita não era de minha posse mais, disse que não faria uma apresentação porque era o livro que devia ser apresentado, não a autora. Sério? Está engando quem? Por fim, meus amigos e meu irmão conseguiram me empurrar na direção do lançamento do livro. A partir daí, as coisas andaram rumo à apresentação do Ausente e da Thais Simone.

Não foi uma festa. Foi um encontro. Ambiente intimista, decoração de bom gosto e uma leveza que eu buscava desesperadamente. Eu queria fugir daquela coisa social, de plumas e paetês e cair na coisa cultural, no acolhimento. Só entendo quem recebe quando ele acolhe e valoriza seu convidado. Não precisa forçar a barra. As pessoas ficam à vontade porque estão se sentindo bem e porque estão felizes em comparecer. Era isso que eu queria e foi isso que eu tive.

Ágata Kaiser, minha amiga, professora e uma das literatas mais sensíveis que eu conheço, fez minha apresentação. Precisa, por sinal. Mesmo com ela própria dizendo-a incompleta. Quem é completo que atire a primeira pedra e quebre o vidro do castelo.

Fiz discurso. Tatuagem. Poesia é tatuagem. Só que ao invés de marcar o corpo, ela marca a alma. Alguns vão achar lindo, outros dirão que é grotesca, mas ninguém fica indiferente à tatuagem, principalmente à da alma. Também me lembro de ter agradecido a todos que me "empurraram" até aquele momento. Lembro-me de ter agradecido meus pais, berço cultural e moral de toda minha vida. E me lembro de não ter dito uma palavra ao Alfredo. Sem seu silêncio, minha alma não poderia ter criado. Esse é o tamanho desse homem que ama e respeita.

Não tive filhos de carne, os meus rebentos são feitos de papel e o Ausente foi só o primeiro.

Thais Simone

Nenhum comentário:

Postar um comentário